As fraquezas do sistema educacional brasileiro formam um círculo vicioso: a má gestão dos recursos e o desalinhamento das políticas federais, estaduais e municipais levam à desvalorização do professor, que resulta em ensino de baixa qualidade, que gera evasão e baixa aprendizagem, o que, por sua vez, desestimula novos investimentos e perpetua as desigualdades.
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Educação: nossas principais fraquezas
Embora o Brasil tenha um percentual do PIB destinado à educação próximo à média de países da OCDE, a gestão e aplicação destes recursos sofre de uma série de vícios e distorções, que resultam num baixo valor por aluno na sala de aula.
E apesar de possuir um arcabouço político e institucional moderno, sua implementação sobre de uma série de problemas que impedem o pleno desenvolvimento do sistema educacional, como veremos.
Como nos outros pontos dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, a aplicação das diretrizes da educação é descontínua e sujeita aos interesses de cada governo no poder. Mais uma vez, nos falta uma política de Estado.
Vamos aos principais motivos:
Gestão de Recursos
Apesar de ainda reduzidos em relação aos principais países da OCDE, os investimentos na Educação têm crescido ao longo dos anos, à exceção dos governos Temer e Bolsonaro.

Independente dos recursos alocados, nosso problema é a gestão destes recursos, sempre influenciados por interesses políticos e problemas crônicos de gestão, alinhamento entre os governos federal, estadual e municipal.
O resultado é que o valor que efetivamente chega na sala de aula é muito baixo. Ele vai desaparecendo dentro das estruturas e burocracias.
A educação é responsabilidade de três esferas (União, estados e municípios), o que gera falta de coordenação nacional, disparidades regionais e uma tendência de as políticas educacionais mudarem a cada gestão, sem continuidade.
Em resumo: gestão financeira altamente ineficaz
Desigualdades estruturais e sociais
Existem profundas disparidades regionais e sociais. A qualidade do ensino varia drasticamente entre regiões (Norte/Nordeste vs. Sul/Sudeste), entre redes pública e privada, e dentro das próprias redes públicas. Estudantes de famílias de baixa renda, negros, indígenas e de comunidades rurais têm acesso a uma educação de qualidade significativamente inferior.
Apesar dos incentivos, o sistema não consegue oferecer suporte adequado para superar as barreiras impostas pela pobreza, como fome, falta de estímulo em casa e vulnerabilidade social.
Qualidade do Ensino e Aprendizagem
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Baixo Desempenho em Avaliações Nacionais e Internacionais: Os resultados consistentemente ruins no PISA (Programa Internacional de Avaliação de Estudantes) e no SAEB mostram que os estudantes não estão atingindo níveis adequados de aprendizagem em leitura, matemática e ciências.
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Currículo Desconectado e “Conteudismo”: Muitas vezes, o currículo é engessado, focado apenas na memorização de conteúdo para vestibulares e não no desenvolvimento de habilidades do século XXI, como pensamento crítico, criatividade e resolução de problemas.
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Defasagem na Alfabetização: Um dos problemas mais graves é a alta taxa de crianças que não são alfabetizadas na idade certa, o que compromete toda a sua trajetória escolar.
Formação e Valorização dos Professores
Formação Inicial e Continuada Deficiente: Muitos cursos de licenciatura são de baixa qualidade e não preparam o professor para os desafios reais da sala de aula. A formação continuada é, frequentemente, esporádica e desconectada da prática.
Baixos Salários e Más Condições de Trabalho: A desvalorização profissional é um dos maiores entraves. Jornadas exaustivas (em várias escolas), salários baixos e falta de plano de carreira atraente levam ao desestímulo, à saúde mental precária e à fuga de bons profissionais.
Falta de Prestígio Social da Carreira: A profissão docente perdeu prestígio ao longo dos anos, afastando jovens talentosos.
Infraestrutura Escolar
Estrutura Física Precária: Muitas escolas públicas carecem de bibliotecas, laboratórios de ciência e informática, quadras esportivas e até mesmo de saneamento básico adequado. A falta de manutenção é um problema crônico.
Falta de Recursos Didáticos Básicos: Escassez de livros, materiais pedagógicos e tecnologia integrada ao ensino. Quando os recursos são disponibilizados, a estrutura escolar não é preparada para utilizá-los (exemplo: Espaços Maker)
Questões pedagógicas e culturais
Alta Taxa de Evasão e Reprovação: O sistema é marcado por uma cultura de repetência, que em vez de ajudar o aluno a aprender, acaba por excluí-lo. A evasão escolar no ensino médio é especialmente alarmante.
Desinteresse e Desengajamento dos Alunos: Um currículo pouco atraente, métodos de ensino ultrapassados (aula apenas expositiva) e a falta de conexão entre o que se aprende na escola e a realidade do aluno contribuem para o desinteresse.

As fraquezas no Ensino Médio
O ensino médio é o segmento mais vulnerável de todo o sistema. Por décadas, o ensino médio foi um “conteúdo único” para todos, sem flexibilidade para atender aos diferentes projetos de vida dos jovens. Nesta etapa da vida, um sistema de ensino que não motive os estudantes cria a sensação que a escola pouco está atendendo às sus necessidades de vida.
Principalmente nas camadas mais pobres da população, o trabalho para obter o sustento imediato concorre com a educação nas prioridades dos alunos e suas famílias. E o ensino médio não prepara adequadamente nem para a universidade nem para o mundo do trabalho, gerando uma sensação de inutilidade nos estudantes.
Deficiências estruturais e de gestão
Currículo Excessivamente Amplo e Desconectado: O currículo do Ensino Médio tradicional é conhecido por ser uma “salada de disciplinas” sem conexão aparente. O aluno estuda uma grande quantidade de conteúdos de forma superficial, sem perceber a aplicação prática ou a relação entre eles. A recente reforma do Ensino Médio tentou abordar isso com os Itinerários Formativos, mas sua implementação é cheia de desafios.
Falta de Recursos e Infraestrutura Precária: Muitas escolas, especialmente as públicas, funcionam com infraestrutura deficitária: laboratórios de ciências e informática inexistentes ou obsoletos, bibliotecas desatualizadas, quadras esportivas deterioradas e falta de manutenção básica. Isso limita drasticamente a qualidade do ensino e a experiência do aluno.
Altíssima Rotatividade de Professores e Gestores: A instabilidade no corpo docente é um dos maiores problemas. Contratações temporárias, professores que lecionam em várias escolas para complementar a renda, e a desvalorização da carreira levam a uma rotatividade que quebra o vínculo pedagógico e a continuidade do trabalho.
Superlotação de Salas de Aula: Salas com 40, 50 ou mais alunos tornam inviável qualquer tentativa de ensino personalizado ou atenção individual. O professor assume um papel de controlador de disciplina, em detrimento da função de facilitação e mediação do conhecimento.
Fraquezas pedagógicas e curriculares
Métodos de Ensino Arcaicos: A aula expositiva (o “professor falando, aluno ouvindo”) ainda é hegemônica. Há pouco espaço para metodologias ativas, projetos interdisciplinares, aprendizagem baseada em problemas ou o uso criativo de tecnologias. Isso gera desinteresse, especialmente em uma geração nativa digital.
Despreparo para o Século XXI: O ensino foca excessivamente em memorizar conteúdos para vestibulares tradicionais, negligenciando o desenvolvimento de habilidades socioemocionais (como colaboração, resiliência e criatividade) e competências digitais críticas para o mundo atual.
Falta de Formação Docente Continuada e Eficaz: Os professores muitas vezes não recebem formação adequada e em serviço para lidar com os novos desafios, como a implementação dos Itinerários Formativos, a inclusão de alunos com deficiência, o uso de novas tecnologias e a gestão de salas de aula complexas.
Avaliação Centrada na Prova: O sistema de avaliação prioriza a memorização de conteúdos para provas, em vez de avaliar processos, raciocínio e competências desenvolvidas. Isso “engessa” o ensino e gera ansiedade nos alunos.
Desigualdade social
Desigualdade Profunda e Abismo Socioeconômico: O sistema reflete e amplifica as desigualdades do país. A qualidade do ensino médio varia drasticamente entre redes estaduais, escolas privadas de elite e escolas em periferias e zonas rurais. O acesso a cursinhos pré-vestibulares e a uma estrutura familiar estável cria um abismo intransponível para muitos.
Evasão Escolar Alarmante: Muitos jovens abandonam a escola por necessidade de trabalhar, desinteresse pela oferta educacional, ou por não verem perspectivas de futuro na educação formal. A escola falha em ser atrativa e relevante para suas vidas.
Dificuldade de Inclusão e Diversidade: A escola ainda tem dificuldade em lidar efetivamente com a diversidade, incluindo a educação para relações étnico-raciais, o acolhimento de alunos LGBTQIAP+, e a implementação de uma educação inclusiva para pessoas com deficiência.